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CORTE DAS UNHAS EM FORMATO RETO?

Sempre que vemos os guias de cuidados com as unhas, a recomendação de regra é:
cortas as unhas em formato RETO.

Isso é realmente válido, pois tem como lógica evitar alterações da curvatura, encravar os cantos das unhas e, também, prevenir traumas durante o corte.

Traumas podem levar a formação de granulomas e infeções, que são verdadeiros riscos para a pessoa com diabetes com perda da sensibilidade. Aliás, essas devem ter as unhas cortadas por um profissional da podiatria.

Sou professora de podiatria clínica há 18 anos e tenho muita vivência clínica. Raramente recebo um cliente com todas as unhas normais (exemplo, vejam essas unhas abaixo, antes e depois do corte).

Sempre que minhas alunas me perguntam sobre esse assunto, eu respondo:

O corte reto da unha é “para quem pode, não para quem quer”.

Unhas com distrofia

Pé esquerdo: antes do corte. Toque para ampliar

 

Unhas com distrofia

Pé direito: antes do corte. Toque para ampliar.


Eu lhe explico bem direitinho.

Em casos de lâmina com curvaturas normais, cortar reto é o correto. Todavia, muitas pessoas já estão com distrofias ungueais, o que impossibilita fazer esse modelo de corte, como os exemplos acima.

Outras, desde cedo, já apresentam formatos nos cantos elevados, arrebitados. O que não permite o corte reto, pois ficarão cantos pontiagudos que serão desconfortáveis durante uso de calçados ou se raspar na pele. Eu chamo esse tipo unha de arma secreta, pois se passar na pele do outro ou de si próprio, riscará e poderá vir a ferir.

Também, verifica-se, na prática clínica, que muitas pessoas idosas, com diabetes ou outras doenças crônicas, possuem as lâminas espessadas e com diversas alterações na sua forma: telha, gancho, caracol, funil. Podendo estar acompanhada de onicomicose, verruga subungueal, queratose subugueal, onicofose e outras onicopatias.

Em tais situações, é inviável fazer o corte reto. Logo, é preciso ajustar o corte, retirando as áreas que estão descoladas, enroladas para baixo. Fazemos um certo ajuste ao formato que está na pele.

Unhas com distrofia

Aqui, a mesma pessoa acima, depois do corte e limpeza. Trabalho realizado por aluna do curso de podiatria, turma 59, julho 2023.

 

Quais as soluções para corrigir?

Quando possível, realizam-se os procedimentos de correção das lâminas com aplicação de órteses ou outras formas de barreira lateral, como os artefatos para o afastamento das pregas. E vamos esperar que a boa vontade da biomecânica possa ajustar e voltar a normalidade. Sempre é possível melhorar os pés.

Bem, agora que você já entendeu que nem sempre é possível realizar cortes retos, explique aos seus pacientes.
E vamos cuidar dos pés desde cedo para polpar o que for possível lá adiante.

Nossos pés são muito importantes. Eles nos sustentam o dia inteiro e nos conduzem pela vida. Vale a pena cuidar bem deles.

Precisando, aqui estamos nós. Se for fora na minha região, uma busca na internet sempre poderá achar muitas das enfermeiras
que tive o privilégio de ser mentora. Em Teófilo Otoni, clique aqui.

E vivam os pés saudáveis!

Com apreço,

Dra Beatriz F A Yamada – PhD
Enfa Estomaterapeuta e Dermatológica
Expertise em PodiatriCare

Treinamento de Enfermeiros em Podiatria Clínica: meu legado 17 anos depois

Há 17 anos tenho me empenhado em treinar enfermeiras e enfermeiros para atuarem nos cuidados com os pés. Sempre, propositalmente, realizando cursos com grupos pequenos para poder ser de fato um hands on. Desse modo, eles voltam para suas cidades em condições de realizar o fundamental para a prevenção de lesões em pessoas com diabetes mellitus: a podoprofilaxia. E muito mais…

Parece que foi ontem que tudo começou, mas estamos completando 17 anos de ensino livre nesta área no mês de maio de 2022. De lá para cá, foram 225 enfermeiros capacitados. Muitos deles estão empreendendo. Certamente, alguns não evoluíram como empreendedores. Alguns foram muito além e se tornaram novas referências na área.

 

Quero aproveitar que estamos em maio, celebrando a Semana de Enfermagem virtualmente, e deixar algumas notas por aqui, dando uma de Florence. Registrar a história é uma linda maneira de vermos como tudo aconteceu, nos inspirar, nos orgulhar e continuar fazendo cada vez mais para o bem comum.

Em 2018, fiz um conferência e deixei publicada sobre a podiatria aqui mesmo nesse blog. Não quero repetir os conteúdo anteriores. Por isso, quero lhe sugerir depois ler mais um pouco (clicar aqui.)

Os primórdios

O primeiro curso, visando os cuidados dos pés, foi realizado de modo extensivo de 15 de maio a 18 de setembro de 2005. Foi um pioneirismo na época, e foi uma iniciativa feita em parceria com a colega Suely Thuler. Temos essa história conjunta.

Na primeira turma, realizamos um curso de 90 h/aula, em São Paulo e Americana, com ênfase em tratamento de pessoas com diabetes, demos o nome de “Pé diabético”: prevenção e tratamento de complicações. Um nome que certamente não usaria mais. Mas à época, foi o melhor que demos. Não queríamos chamar de podologia, e o termo podiatria ainda não estava sendo usado no contexto da enfermagem em nosso meio.

Nessa versão, demos muitos assuntos, mas o foco era a podoprofilaxia aplicada às pessoas com diabetes. Nesse curso, eu fui aluna e professora. Aluna na parte específica dos pés e professora da parte de feridas e outros assuntos. A Suely, que já tinha habilidades em podoprofilaxia, fez a parte teórica e prática dessa área. A soma de nossas expertises deu um bom fruto. E a turma era brilhante, a quase totalidade era de estomaterapeutas. Assim, nesse mesmo curso eu obtive a minha capacitação em podiatria.

Foi uma ótima experiência, treinamos dezessete enfermeiros. Alguns ainda permanecem, como é caso da Enfermeira Merian Santos, minha irmã, que na época trabalhava comigo na minha clínica.

No ano seguinte, realizamos mais uma turma, e vimos que era possível diminuir a carga horária, pois eles já tinham muito do conhecimento adquirido da pós-graduação em estomaterapia. A partir dessas duas experiências, cada uma de nós partiu para carreira solo. A Suely, em Americana e eu, aqui em São Paulo.

A minha continuidade

Seguindo no meu propósito, criei um novo programa de treinamento, com ênfase na prática clínica, para complementar a formação dos enfermeiros estomaterapeutas. Gradualmente, enfermeiros especialistas em dermatologia e uns raros generalista passaram a ter interesse também em fazer a formação.

Tudo acontecia dentro de minha própria clínica para no máximo 3 pessoas. Fiz esse projeto com a participação da Enfermeira Merian na parte prática. Quando conseguimos uma possibilidade de fazer estágio fora, passamos ampliar o número de vagas.

Marco de crescimento

Ao longo do tempo, fui fazendo sempre mudanças até chegar a um modelo ajustado ao empreendedorismo na área.

Partindo de 2005 até aqui (maio de 2022), já foram 53 turmas treinadas, e a de turma 54 será em julho. Tenho a grata satisfação de ter saído de meu centro de estudos 225 enfermeira(o)s capacitados para exercer a podiatria clínica com muita propriedade.

De maio de 2016 para cá, passei a realizar essa atividade sozinha e já treinei 148 enfermeiros. Nitidamente, os enfermeiros passaram a ter interesse pela área para somar as atividades que já realizavam ou iniciar um projeto específico na área – especialmente para os que não eram ainda especialistas.

 

Com a minha formação em psicologia e coaching, criei um programa diferenciado com inclusão da autoavaliação usando ferramentas de coaching. Isso ajuda enfermeiro a conhecer melhor suas habilidades para empreender. Empreender é uma das tônicas do meu curso.

 

Desde 2016, o curso são de cinco (5) dias para o encontro presencial. Isso se fez necessário para incluir a mentoria para empreender e o treinamento clínico com voluntários em três dias.

A parte teórica, realizada por vídeos, é gratuita. O curso atual conta com 220h/aula, sendo dessas 160 teóricas. E o aluno que faz toda a parte teórica, damos um certificado de aperfeiçoado, em função da carga horária. Alguns chamariam isso de habilitação, mas ainda seguimos as recomendações da SOBENDE quanto as cargas horárias para cursos livres.

No nome do curso, incluímos o laser/led (fotomobiomodulação, terapia fotodinâmica e ILIB) ao que fizer a atividade completa – com prova comprobatória.

Para a carga horária ser a de aperfeiçoamento, também, é preciso que sejam enviadas as sínteses de todas as aulas em vídeos. Isso é uma forma de comprovar que assistiram. Aos que não fazem essa atividade (raros), recebem o certificado do curso pago, ou seja, a capacitação presencial.

O curso é mais que um curso

O enfermeiro que ingressa no meu curso, se tiver empenho em estudar todo o material dado, recebe uma excelente formação técnica-científica, de desenvolvimento profissional, empreendedorismo. Além disso, ao me conhecer pessoalmente e ter uma vivência intensiva comigo, que já carrego uma longa jornada em atividade empreendedora, clínica e de ensino, ele irá aprender ouvindo muitas histórias de sucessos ou fracassos.

Os enfermeiros levam consigo mais que uma formação, não há como não ter uma mexida na mentalidade que os ajudam em sua transformação, com raríssimas exceções. A maioria que vem já sabe o que quer. Eles vêm porque querem fazer um serviço para si mesmos ou para as instituições onde atuam. Rasas são as exceções daqueles que não conseguem caminhar no empreendedorismo por questões que passam pelo pessoal ou por mudanças de objetivos.

Esse é um curso ideal para os Enfermeiros que estão bem determinados em seguir carreira na área podiátrica. Claro que que tudo é aprendizado, porém o propósito do curso é que os enfermeiros possam caminhar para uma vida autônoma, total ou parcialmente.

Ao longo desses anos, tenho visto muitos deles fazendo lindo trabalho e os acompanho no Instagram. Alguns vivem com exclusividade de seu trabalho clínico na área. Outros fazem da podiatria mais um serviço. E quero deixar o depoimento de alguns deles aqui.

Minha missão: ajudar pessoas com diabetes a não sofrerem amputação de seus pés. Por isso, eu me empenho a ampliar esse propósito pela educação profissional.
Quer se juntar a mim nessa missão? Então, faça também da PoditriCare seu propósito

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Depoimentos

Enfa Angélica Faria – Criou a Curapés, em Santos (SP)
Fez seu curso em 2016, atende em consultório

“A Podiatria Clínica entrou na minha vida quando eu quis voltar para a assistência de Enfermagem, pois passei um longo período me dedicando à área acadêmica e aos meus dois filhos que eram pequenos. Realizei, em 2016, a minha capacitação em Podiatria Clínica com a Dra. Beatriz Yamada e logo abri o meu consultório de Enfermagem Podiátrica. A minha trajetória foi construída na minha busca em aprofundar os meus conhecimentos nessa área para me tornar uma referência, e a Dra. Beatriz teve muita importância para eu conseguir alcançar o que almejava. A capacitação em Podiatria Clínica me possibilitou exercer a enfermagem com excelência e autonomia”. ‘O que mais marcou-me foi que, na época seu consultório estava em reforma, e isso poderia ser um impedimento para você ministrar o curso. Mas você se reorganizou, foi em frente e ministrou o curso. E aquela velha máxima valeu: “quem quer faz, quem não quer arruma desculpas. Então, essa é a diferença, essa linha é que define os vencedores dos que vão ficar para trás”

Gratidão Dra. Beatriz Yamada!
Diretora Clínica da Curapés – Enfermagem Podiátrica.

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Enfa Rayane Monteiro – Bonito (PE)
Fez seu curso em 2021, está desenvolvendo atividade em domicílio.

“Quando aconteceu a oportunidade de realizar o curso de aperfeiçoamento em Podiatria Clínica, não imaginava o leque de aprendizado que essa viagem me proporcionaria. Além de conhecer grandes histórias, o ensinamento foi singular para cada aluno. Sabe aquela aula de pegar na mão? Não tem como dar errado. O mais impactante foi imaginar o Instituto uma sala de aula e me deparar com um lugar mágico e aconchegante. Após o curso, tive oportunidade de acrescentar valor ao trabalho que realizo na minha cidade Bonito em Pernambuco. Passei a observar melhor cada pé”.

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Enfa Suelen Santos – Bonito (PE)
Fez seu curso em 2021, está desenvolvendo atividade em domicílio.

“O curso de aperfeiçoamento em podiatria clínica já era algo que queria fazer a algum tempo. Então ,chegou a oportunidade. Nesse curso, aprendi muito mais coisas do que na minha pós. Isso acrescentou muito no serviço que realizamos aos pacientes. A importância de se ter um olhar diferenciado quanto as pessoas com Diabetes mellitus. E hoje meus paciente só têm a ganhar, pois eles têm uma enfermeira qualificado para resolver os problemas que ali apresentar. Só tenho a agradecer a você por tanto ensinamento”.

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“Sou Clovis Rodrigues, 39 anos, estou como enfermeiro atuando na área da Podiatria Clínica, moro no Rio de Janeiro – Duque de Caxias. No dia 30/09/2019 cheguei em Butantã – São Paulo sem saber o que era Podiatria Clínica e nem professora Beatriz Yamada, mas como uma esperança de buscar novo horizonte na enfermagem. No início do curso acreditava ser a melhor coisa que tinha feito, e admirado com tanta inteligência da professora Beatriz Yamada. Mas confesso que ainda no mesmo dia tudo que eu tinha sentido anteriormente em relação em a melhor coisa que tinha feito, estava indo por agua abaixo”.

“Por que? A professora Beatriz começou a falar dos matérias que eu teria que comprar, e só Deus sabia como foi para eu está lá naquele momento. Só para ter uma noção: eu peguei cartão emprestado para comparar passagem de ônibus; minha hospedagem foi em host compartilhado e pouco recurso financeiro para passar os dias do curso. Rsrs”

“Deus sabe de todas coisas. A professora Beatriz Yamada em um momento do curso disponibilizou todos os matérias necessários, aonde falou que podíamos pegar o que nós quiséssemos e pagaríamos conforme nossas decisões. A partir deste momento voltei ter esperança, e só precisava aprender as técnicas e absorver todos conhecimento que foi compartilhado. Foram dias intensos de treinamento, muitos aprendizados, tudo valeu apena. Quando cheguei no de Rio de Janeiro já tinha o que era necessário para começar a construir meu futuro”.

“Sempre digo, tem um profissional antes de Beatriz Yamada e outro profissional após Beatriz Yamada. Preciso falar se valeu apena? “

Empreendendo com treinamento de Enfermeiros em PodiatriCare – relato de experiência

Introdução

Quanta coisa acontece em um dia? Ou em uma semana? Um ano? Uma, duas décadas? Muitos dos acontecimentos vividos vão ficando para trás e sem os devidos registros os fatos são deixadas no ‘vazio’. Quanta falta me faz um diário, e esse blog tem também essa finalidade: guardar histórias. Assim sendo, vou registrar aqui um pouco da minha trajetória com treinamento de enfermeiros ao longo desses 13 anos. Uma razão é porque no dia 31 de agosto teremos o PodiatriCare – II Simpósio de Podiatria Clínica, e como estou preparando minha palestra de empreendedorismo em ensino extracurricular, resolvi deixar algum registro aqui em meu blog profissional.

Contextualizando a minha formação como especialista e empresa

Como tudo tem um começo, preciso contextualizar alguns dados de minha formação e da empresa. Então, vamos lá ativar uns engramas cerebrais.

Fiz especialização em estomaterapia num curso intensivo de menos de três meses, na Escola de Enfermagem da USP, na XIX turma, iniciada em fevereiro de 1998. Ao concluir, já em maio, iniciei minhas atividades como estomaterapeuta (ET) em assistência domiciliária. E assim fiquei até julho de 2000, quando minha clínica (Enfmedic) foi inaugurada na Capote Valente, 432 cj 75, local que permaneci até 30/06/18 (guardando memórias). São duas décadas de formação especializada em estomaterapia e de empreendedorismo na área.

A Enfmedic guarda em sua história muito pioneirismo em inúmeros de seus empreendimentos, sendo esta a primeira clínica do país em estomaterapia. Isso é um dos pioneirismos: nascer num contexto onde a estomaterapia era extremamente desconhecida e mais raro ainda enfermeiros terem clínicas. Essa realidade é bem diferente na atualidade, pois já há vários enfermeiros empreendendo. Tenho consciência que servi de espelho para muitos de meus pares. E com esses 20 anos de experiência, hoje me é fácil falar sobre nos cursos que ofereço e mostrar ao enfermeiro que podemos voar e ter uma vida 100% autônoma e ser profissional liberal, empresário etc, sendo bem sucedido na carreira. Desde que tenha muito empenho. Gosto de uma frase, no que no site pensador refere ser de autor desconhecido. Ela faz todo sentido para minha vida.

“O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário”.

Voltando aos pés. Lidando com pessoas com úlceras por diabetes mellitus, via a situação das unhas e pés e não tinha preparo para esses cuidados, mas era preciso cuidar deles. Desse modo, inclui no escopo das atividades multidisciplinar da clínica a podologia, mas realizada por podólogos. Relembro que nessa época já havia enfermeiras com curso técnico em podologia atuando com pacientes diabéticos. Mas ainda nenhum curso para capacitar enfermeiros para esse exercício de cuidados podais. O inverso era real, preparação de podólogos para cuidar de diabéticos. De verdade isso me era um incômodo. O enfermeiro já tinha histórico longínquo de atuação na área e foi perdido por alguma circunstância do mercado.

Os primórdios dos cursos de podiatria

A colega Suely Thuler, residente em Americana (SP), ao realizar sua pós-graduação em Estomaterapia, em 2000, foi se engajando nessa área, buscando beber em outras fontes para ir adquirindo esse conhecimento. Suely, em 2001, começou a dar aula no curso de estomaterapia da Unitau, de onde foi egressa, sobre prevenção de lesões nos pés de pessoas diabéticas, o que se estendeu na EEUSP depois.

Como minha empresa já tinha Centro de Estudos e realizava vários cursos de atualização em estomaterapia, em 2005, nos unimos para empreender nesse segmento, realizando cursos específicos para enfermeiros e até para podólogos. Mas, depois decidi atuar apenas com enfermeiros, pois acredita que o caminho tinha que ser o inverso. Ensinar enfermeiros a fazer cuidados podais e esses assumirem o cuidado do paciente diabético, e não o contrário. Algo hoje que ainda me mantenho fiel a essa missão: trazer o enfermeiro para atuar em Podiatria Clínica especialmente com diabéticos, e ajudar a mudar a realidade que se tornou saúde publica, pessoas diabéticas perdendo os pés em alguma parte do mundo a cada 20 segundos.

Na primeira proposta, fizemos um curso de 96h/aula, com muita teoria, e demos o nome de: “Curso de Capacitação para enfermeiros – Prevenção de complicações nos pés de diabéticos“. Não chamamos de podologia e nem tão pouco podiatria. Nossa ênfase era ensinar de modo mais abrangente o cuidado ao paciente diabético, numa perspectiva de cuidados de enfermagem, mas inserido os cuidados podais. Abaixo um recorte do folder usado.

Isso foi algo inédito no país: ensinar enfermeiros a realizar tratamento/cuidados podais. Essa curso foi muito prazeroso, e entre as atividades realizadas construimos junto com os alunos um instrumento de avaliação dos pés de pessoas com diabetes. Desse curso, frutos renderam e algumas enfermeiras foram atuar na área diretamente.

Numa versão seguinte, diminuímos a carga horária pois verificamos que muitos dos conteúdos dados já eram conhecidos pelos enfermeiros. Assim sendo, passamos dar mais ênfase em aspectos práticos.

Nessa fase, dispensei o serviço realizando por podólogos, e Suely passou a atender alguns casos na Enfmedic por um curto período de tempo. Merian, uma das enfermeiras que atuava comigo foi capacitada no curso e passou a realizar esse trabalhado também.

No seguir da carruagem, Suely e eu fomos atuando de modo independente no treinamentos de enfermeiros, cada uma em sua própria sede. E em meu curso passei a focar inteiramente em prática clínica de 3 dias por um certo tempo.

Embora meu enfoque nesse texto seja sobre educação, não posso deixar de escrever que na área assistencial a podiatria passou a ser um serviço bem relevante na empresa, e hoje é o carro chefe.

Um enxerto na história – assegurando a área na estomaterapia

Ao vermos ser esse um caminho presente e futuro de grande importância para o Estomaterapeuta, em minha gestão como presidente da SOBEST realizamos as competências do ET, e, aproveitou-se para já inserir essa atividade como parte integrante da especialidade, em documento publicado na Revista Estima e no site da SOBEST. Nesse documento ficou definido que algumas dessas atividades devem ser realizadas mediante curso complementar de capacitação em podiatria.

Realizar cuidados podiátricos – cuidados com as unhas: limpeza de micose, corte adequado, correção de deformidades e remoção de espículas ; cuidados com os pés: remoção de calos e calosidades (SOBEST, 2008).

Pouco a pouco os coordenadores dos cursos de estomaterapia foram introduzindo algum conteúdo no assunto para despertar os alunos para essa área também. E fomos vendo cada vez mais enfermeiros se interessando e se capacitando para tal exercício com cursos de extensão. Nossa empresa serviu de campo de estágio na área para os alunos de estomaterapia da EEUSP.

A especialidade na UNIFESP

Em 2007 nasceu a especialização em Podiatria na UNIFESP e três cursos foram realizados. Foi sonhado pela profa Mônica Gamba, a real precursora da Podiatria, mas coordenado pela Profa Odete, com auxílio da enfa Vera Lígia. Nesses cursos várias ET se especializaram, sem contudo atuar plenamente na área. Com a especialização a Podiatria entrou no rol das especialidades da enfermagem, mas foi retirada por algum desconhecimento de causa, ficando somente nas competências do ET. O curso foi interrompido depois da 3a edição, mas há intenção de retornar.

Outros cursos de especialização foram realizados por iniciativa privada.

A Podiatria na SOBENDE

Em 2015 foi incluída como uma parte no departamento das sub áreas da SOBENDE. E nessa entidade participei, com outras colegas, de uma força tarefa para organizar os cursos de extensão quanto a carga horária e conteúdo. O material foi enviado ao COFEN, pois se pretendia requerer o retorno da especialidade, o que não aconteceu.

Recentemente, o COFEn realizou uma nova resolução 570/18 incluindo a podiatria na Enfermagem em Dermatologia. Essa área têm sido atualmente coordenada por mim dentro da SOBENDE.

Nossos Simpósios – realizando cultura

Em abril 2016, realizamos, juntamente com o SIMPELE (Simpósio de Pele), o I Simpósio de Podiatria Clínica, no teatro Gamaro, em parceria com a Expansão Eventos, com participação de enfermeiras atuantes na área (Maria Lucoveis, Merian Santos, Rosangela Oliveira, Vera Lígia). Esse ano acontecerá a segunda edição, com exclusividade em Podiatria, ganhando essa identidade visual abaixo, também de autoria de Rachem Yamada.

Em maio de 2017, cunhamos em nossa empresa o termo PodiatriCare, para denominar nosso serviço dentro do IBYamada (nome fantasia adotado a partir de 2016). Depois, com a ideia de franquia, adotamos esse nome para o projeto PodiatriCare – uma missão de cuidado, que está sendo estruturado para uso de licença de marca. A logomarca (nov 17) foi criada pela minha filha, uma artista inata. E um site exclusivo foi desenvolvido pelo Maurício, cujo lançamento foi feito em dezembro de 2017.

Nesse momento, a PodiatriCare é uma rede de afiliados que se interessaram em promover o nome podiatria clínica, juntamente com o IBYamada. Todos os participantes são egressos de nossos cursos de podiatria clínica.

Logarmaca criada por Rachel Yamada

Ressalto que devido ao interesse na podiatria e sua inserção oficial dentro da Enfermagem em Dermatologia, coordeno uma pós-graduação no Centro Universitário Adventista nesse área, onde a Podiatria foi inserida como parte das disciplinas. O curso está em fase de inscrição.

Os nossos treinamentos no presente momento

A contar de 2005 até agosto de 2018, 37 turmas foram realizadas e inúmeros enfermeiros treinados. Vários desses realmente atuando, precisaria fazer uma pesquisa com os egressos.
Tenho como premissa a realização de turmas pequenas, com no máximo sete pessoas, devido a prática clínica que quero acompanhar com toda atenção.

O curso foi passando mudanças gradual ao longo do tempo, pois era focado na prática. Foram sendo incluídas novas temáticas como laser e empreendedorismo, sendo necessária a ampliação da carga horária. E sei que sofrerá sempre mudanças, pois é um aprendizado contínuo.

A partir de janeiro de 2018 passou a ser de Aperfeiçoamento, com uma parte teórica realizada em EAD. Na parte presencial, realizo dinâmicas de autoconhecimento (juntando meus conhecimentos de psicologia), além de mentoria em empreendedorismos e o treinamento em voluntários generosos. Tudo isso, em curto tempo, possibilita ao enfermeiro ampliar suas competências e atividades que já realiza, mas também iniciar um trabalho exclusivo. A grande maioria dos treinados é ET ou Enfermeiro em Dermatologia.

Considerando os treinados nos primórdios, já são 150 enfermeiros. De janeiro de 2015 até agosto de 2018, 102 enfermeiros foram treinados. E a partir de maio de 2016 (n=76), exclusivamente por mim.

Dado ao interesse, em parceria com colegas, realizamos uma nova base de treinamento no nordeste, na cidade de Fortaleza (CE), e já treinamos 14 enfermeiros em maio e julho, e com uma nova turma aberta para novembro. O Ceará já possui 15 enfermeiros treinados no nosso programa, todas elas especialistas em estomaterapia ou dermatologia. Na figura abaixo pode ser visualizada a distribuição por estado, no período de janeiro de 2015 a agosto de 2018.

Embora tenham sido treinados todos esses, nem todos conseguiram atuar em Podiatria de modo exclusivo ou complementar. Seja porque não possuem muito perfil para o empreendedorismo, seja porque não se encontram nessa atividade. Alguns se sentem “diminuídos” realizando cuidados podais. Talvez não tenham entendido o valor da missão de PodiatriCare: ajudar pacientes diabéticos a preservarem seus pés do risco da amputação, pois as estatísticas mostram que a “a cada 20 segundos um diabético perde o pé”. Atrelado a isso, PodiatriCare é uma das grandes possibilidades para o enfermeiro empreender com muito sucesso.

Graças a podiatria meu consultório se mantém com atividade 100% privada, não somente para atendimento clínico mas em educação continuada.

Incentivo fortemente enfermeiros a atuarem nessa área.

Dra Beatriz Yamada – ET

Há pés! Uma orientação em forma de prosa

Escrevi esse texto recentemente para publicar na inauguração do site da PodiatriCare. Nada mais é que uma orientação de cuidados escrita de modo mais leve, humorada, mas também sem perder o teor técnico e científico.

O texto está emoldurado em meu consultório. Quando recebo um cliente de podiatria, enquanto o atendo, solicito que leia essa prosa que fiz, se possível em voz alta para eu também possa ouvir.

É interessante observar o sorriso deles e o quanto há identificação com alguma parte do texto. Não é para menos, a experiência do dia a dia atuando em Podiatria foi na verdade minha própria inspiração para alguns dados. Como aqui é nosso site principal, quero postá-lo novamente.


Há Pés!

Os pés têm a dura tarefa de sustentar o corpo humano.

Com seus múltiplos ossos, ligamentos e músculos, uma base de sustentação é formada capaz de manter o homem em pé, movimentá-lo para todas as direções, seja andando, correndo, trotando ou passeando.

Os pés permitem ao ser humano pular, dançar, saltar, nadar, brincar e sonhar. Tão importantes que são, já inventou-se música para os pés: “meu pé, meu querido pé, que me aguenta o dia inteiro…”. De fato, os pés são heróis!

Há pés finos, macios, grossos, rachados. Pés bem feitos, tortos, retos, chatos e cavos. Pés suados, secos, ressecados, com chulé (bromidrose).

Há pés sofridos pelos calçados ou por falta desses, sofridos pelo peso excessivo do corpo. Cada um tem seu pé.

Há também pessoas apaixonadas por pés (um fetiche), as neuróticas por cuidados, mas há aquelas que parecem não ter pés, porque esquecem de cuidar deles. Como alguém esquece de seu pé?

Há pés insensíveis. Esses pés merecem muita atenção e cuidado pelo alto risco de se lesionarem, se ferirem, infectarem e até amputarem. E sobre esses, deixo meu recado: cuidado em que mãos está entregando seus pés!! Esses pés precisam de mim, precisam de enfermeiros, precisam de podiatria.

Há pés e há unhas…

Cada pé tem cinco dedos que são recobertos por um anexo da pele, a unha. Há unhas lindas, curtas ou compridas, são translúcidas e belas. Mas as mulheres adoram pintar de vermelho, azuis, marrom, cores mil. Ficam lindas por fora, mas o uso crônico deixam as unhas manchadas, amarelas e com risco de contrair fungos. Viva o natural!

As unhas possuem um selo de proteção, as cutículas. Há muitas mulheres (e até homens) que as tiram. Para todos deixo um recado: prestem atenção! Saúde não tem preço. Eu optei pela saúde, deixo minhas cutículas no lugar.

Tirar as cutículas é se submeter a contrair doenças contagiosas sistêmicas e fungos nas unhas. E unhas com fungos causam destruição, deixam aparência espessa, amarela e, porque não dizer: ficam feias e causam baixa autoestima. Como usar rasteirinha com tais unhas à vista? Como ir à piscina? Beijar esses pés? Haja amor ou loucura.

Proseado à parte, seus pés merecem o mesmo cuidado de qualquer área delicada do corpo. Então, corte as unhas corretamente, deixe sua cutícula no lugar, modere nos esmaltes. Hidrate seus pés sempre após o banho, aproveite e faça uma massagem. Use sapatos confortáveis, limpe-os e deixe-os pegando um ventinho básico.

Beleza é bom, conforto é bom demais. E saúde? Nem se fala.

Se porventura tiver onicomicoses, unhas distróficas, calos e calosidade não hesite em buscar cuidados podiátricos.

Fungos: a terapia fotodinâmica com laser cura. Com persistência.

Distrofias: se corrige. Com paciência.

Calos e calosidades: se desbrida. Sempre.

Há pés! E precisam de cuidado e atenção.

 

Dra Beatriz Farias Alves Yamada
Enfermeira Estomaterapeuta e Psicóloga