Experiências de viver com o “intestino do avesso”
O dia 16 de novembro é uma data nacional de comemoração da pessoa com estomia.
As estomias são aberturas de algum órgão do corpo realizadas cirurgicamente, sempre com a finalidade de preservar a função. Muda-se a anatomia, mas o funcionamento daquele órgão é preservado. Logo, salva-se a vida.
As estomias mais comuns são aquelas realizadas nos intestinos. Através de uma abertura na parede abdominal o intestino é exteriorizado, evertido e suturado (costurado) na parede, expondo, assim, a mucosa intestinal. Isso tudo é cicatrizado com alguns dias, protegendo-se a parte interna do corpo. As fezes passam diretamente por esse orifício para o meio externo e são coletadas num equipamento acoplado a pele, chamado popularmente de ‘bolsa’ de estomia.
Para essa eversão intestinal, estou aqui dando o significado de ‘intestino do avesso’, pois me lembrei da campanha da epidermólise bolhosa que faz a provocação com o ‘virar do avesso’.
Em português o termo correto é “estomia”. Contudo é comum o uso de ‘ostomia’, especialmente entre as próprias pessoas com a derivação.
Uma estomia trás sem dúvidas mudanças de todas as ordens na vida de uma pessoa. Cada tipo com suas peculiaridades, mas as intestinais podem trazer mais aversão em função do conteúdo fecal exalar odor. Lidar com fezes é sempre algo cheio de ecas desde as primeiras experiências de um ser humano. A mãe limpa o bebê, mas geralmente as reações não são de que delícia, que cheiro bom, que maravilha…
Não preciso explorar isso, certo? Todos bem sabemos das reações que temos dentro de um sanitário.
Nessa matéria eu não quero falar de coisas negativas. Porque todas as coisas na vida tem duas faces. Posso diante de um fenômeno explorar mais aspectos negativos que positivos. Contudo, uma visão mais negativas dos fatos causam mais efeitos emocionais deletérios.
Para celebrar esse dia, quero deixar as falas de pessoas que são estomizadas. E desde que já as agradeço por terem se interessado pelo meu pedido e enviarem seus textos e fotos.
Desejo vida longa e bem-estar a todas as pessoas com estomia no Brasil e ao redor do mundo. Decido também ao meu amigo Rufo ( in memoriam) e a minha querida Ana Cris (in vida).
Meu apreço.
Dra Beatriz Farias Alves Yamada
Estomaterapeuta – COREN 49515
Psicóloga Clínica – CRP 06/127735
Selma Torquete – Ileostomia definitiva desde 2005.
Aos 23 anos de idade, fui diagnosticada com Retocolite Ulcerativa. A partir daí comecei o tratamento com o Proctologista, devido as cólicas abdominais e sangramento nas fezes. O tratamento foi intenso, por 20 anos, porém, não escapei da cirurgia.
Foi desesperador quando me vi com uma bolsa de Ileostomia acoplada no meu abdômen. Tinha certeza que aquilo era o fim da linha para mim, minha vida virou dos avessos, já não existia alegria e nem razão para viver.
Aos 44 anos de idade, sem esperança de sobreviver por conta das ocorrências após 4 cirurgias, com perda de peso e muitas dores, entreguei minha vida nas mãos de Deus.
Foi a melhor coisa que fiz na minha vida, pois estava cercada de muito carinho dos familiares e amigos, conheci pessoas que foram e ainda são o meu apoio e meu chão.
Aos poucos fui aprendendo a lidar com a situação, graças às dicas e o apoio das voluntárias da AOMSP – Associação dos Ostomizados do Município de São Paulo, onde mais tarde me tornei uma voluntária por três anos e meio, foi de grande importância esse convívio com a Associação, pois foi com eles que aprendi dar a volta por cima e consegui encarar os obstáculos e recomeçar e principalmente aceitar.
Hoje, aceitando a situação e superando os obstáculos, posso me considerar uma vencedora, trabalho ainda aos 57 anos, uso condução ônibus, metrô, tento ser o mais alegre e companheira possível, gosto muito de curtir a família e os amigos, de viajar e principalmente de agradecer a Deus, que nunca me abandonou, por todo momento vivido e por aqueles que ainda hão de viver.
Moral da minha história: “ Viver um dia de cada vez e ser feliz sempre.”
Acredite sempre, mesmo que o sol não esteja brilhando, porque ‘a força de acreditar é capaz de destruir a escuridão’.
Maria Rita Silva – 48 anos nutricionista/SP, Ileostomia desde 2013
Hoje, eu sempre comemoro a vida pois, graças à ileostomia definitiva, que ganhei desde 2013, por conta de complicações da Doença Inflamatória Intestinal e, carinhosamente chamada de Mel, minha companheira do dia a dia, consegui melhorar minha qualidade de vida e viver melhor.
Hoje, eu comemoro, sim, a pessoa ostomizada que luta pela vida e não desiste de ser feliz em meio a tantas dificuldades, que qualquer um de nós pode passar independente de ser ou não ostomizado. Eu comemoro cada dia vencido com muito orgulho.
Comemoro muito a oportunidade em conhecer pessoas tão especiais que me mostraram que ser ostomizado não é o fim da vida e sim que podemos muito e que, apesar de qualquer dificuldade, vale a pena viver e lutar pelos nossos sonhos.
Após a cirurgia eu consegui terminar o curso universitário concluindo a graduação em Nutrição. Atualmente, sempre que tenho oportunidade, eu auxilio pacientes em sua nova vida como ostomizado. Fazer o bem ao próximo nos faz bem, e procuro fazer tudo que eu gosto: sair com amigas, dançar, ir à praia e, lógico, namorar!
Afinal, a vida, meu bem é para ser vivida pois pode, num sopro se acabar, então “Viva la Vida”.
Me chamo Edna e tenho 49 anos. Há quase 28 anos, fui diagnosticada com Doença de Crohn e durante todo este período, passei por muitos altos e baixos, como a maioria dos colegas que também convivem com esta doença.
Passei por muitas internações e cirurgias, e entre elas, uma ileostomia e uma colostomia.
Talvez, eu pudesse ter considerado estes detalhes como uma desgraça, mas ao invés disso, resolvi dar GRAÇAS por tudo de bom que Deus permitiu acontecer na minha vida, apesar de tudo que passei.
A ostomia me permitiu mais qualidade de vida, principalmente, depois que conheci outros ostomizados que passaram pela mesma situação e me ajudaram à aceitar a nova condição. Depois da aceitação, me permiti aprender à viver o que for possível, da melhor maneira possível.
Obviamente, a ostomia não foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, mas sem dúvidas, muitas coisas maravilhosas me aconteceram, depois que me tornei uma mulher ostomizada.