Introdução
Quanta coisa acontece em um dia? Ou em uma semana? Um ano? Uma, duas décadas? Muitos dos acontecimentos vividos vão ficando para trás e sem os devidos registros os fatos são deixadas no ‘vazio’. Quanta falta me faz um diário, e esse blog tem também essa finalidade: guardar histórias. Assim sendo, vou registrar aqui um pouco da minha trajetória com treinamento de enfermeiros ao longo desses 13 anos. Uma razão é porque no dia 31 de agosto teremos o PodiatriCare – II Simpósio de Podiatria Clínica, e como estou preparando minha palestra de empreendedorismo em ensino extracurricular, resolvi deixar algum registro aqui em meu blog profissional.
Contextualizando a minha formação como especialista e empresa
Como tudo tem um começo, preciso contextualizar alguns dados de minha formação e da empresa. Então, vamos lá ativar uns engramas cerebrais.
Fiz especialização em estomaterapia num curso intensivo de menos de três meses, na Escola de Enfermagem da USP, na XIX turma, iniciada em fevereiro de 1998. Ao concluir, já em maio, iniciei minhas atividades como estomaterapeuta (ET) em assistência domiciliária. E assim fiquei até julho de 2000, quando minha clínica (Enfmedic) foi inaugurada na Capote Valente, 432 cj 75, local que permaneci até 30/06/18 (guardando memórias). São duas décadas de formação especializada em estomaterapia e de empreendedorismo na área.
A Enfmedic guarda em sua história muito pioneirismo em inúmeros de seus empreendimentos, sendo esta a primeira clínica do país em estomaterapia. Isso é um dos pioneirismos: nascer num contexto onde a estomaterapia era extremamente desconhecida e mais raro ainda enfermeiros terem clínicas. Essa realidade é bem diferente na atualidade, pois já há vários enfermeiros empreendendo. Tenho consciência que servi de espelho para muitos de meus pares. E com esses 20 anos de experiência, hoje me é fácil falar sobre nos cursos que ofereço e mostrar ao enfermeiro que podemos voar e ter uma vida 100% autônoma e ser profissional liberal, empresário etc, sendo bem sucedido na carreira. Desde que tenha muito empenho. Gosto de uma frase, no que no site pensador refere ser de autor desconhecido. Ela faz todo sentido para minha vida.
“O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário”.
Voltando aos pés. Lidando com pessoas com úlceras por diabetes mellitus, via a situação das unhas e pés e não tinha preparo para esses cuidados, mas era preciso cuidar deles. Desse modo, inclui no escopo das atividades multidisciplinar da clínica a podologia, mas realizada por podólogos. Relembro que nessa época já havia enfermeiras com curso técnico em podologia atuando com pacientes diabéticos. Mas ainda nenhum curso para capacitar enfermeiros para esse exercício de cuidados podais. O inverso era real, preparação de podólogos para cuidar de diabéticos. De verdade isso me era um incômodo. O enfermeiro já tinha histórico longínquo de atuação na área e foi perdido por alguma circunstância do mercado.
Os primórdios dos cursos de podiatria
A colega Suely Thuler, residente em Americana (SP), ao realizar sua pós-graduação em Estomaterapia, em 2000, foi se engajando nessa área, buscando beber em outras fontes para ir adquirindo esse conhecimento. Suely, em 2001, começou a dar aula no curso de estomaterapia da Unitau, de onde foi egressa, sobre prevenção de lesões nos pés de pessoas diabéticas, o que se estendeu na EEUSP depois.
Como minha empresa já tinha Centro de Estudos e realizava vários cursos de atualização em estomaterapia, em 2005, nos unimos para empreender nesse segmento, realizando cursos específicos para enfermeiros e até para podólogos. Mas, depois decidi atuar apenas com enfermeiros, pois acredita que o caminho tinha que ser o inverso. Ensinar enfermeiros a fazer cuidados podais e esses assumirem o cuidado do paciente diabético, e não o contrário. Algo hoje que ainda me mantenho fiel a essa missão: trazer o enfermeiro para atuar em Podiatria Clínica especialmente com diabéticos, e ajudar a mudar a realidade que se tornou saúde publica, pessoas diabéticas perdendo os pés em alguma parte do mundo a cada 20 segundos.
Na primeira proposta, fizemos um curso de 96h/aula, com muita teoria, e demos o nome de: “Curso de Capacitação para enfermeiros – Prevenção de complicações nos pés de diabéticos“. Não chamamos de podologia e nem tão pouco podiatria. Nossa ênfase era ensinar de modo mais abrangente o cuidado ao paciente diabético, numa perspectiva de cuidados de enfermagem, mas inserido os cuidados podais. Abaixo um recorte do folder usado.
Isso foi algo inédito no país: ensinar enfermeiros a realizar tratamento/cuidados podais. Essa curso foi muito prazeroso, e entre as atividades realizadas construimos junto com os alunos um instrumento de avaliação dos pés de pessoas com diabetes. Desse curso, frutos renderam e algumas enfermeiras foram atuar na área diretamente.
Numa versão seguinte, diminuímos a carga horária pois verificamos que muitos dos conteúdos dados já eram conhecidos pelos enfermeiros. Assim sendo, passamos dar mais ênfase em aspectos práticos.
Nessa fase, dispensei o serviço realizando por podólogos, e Suely passou a atender alguns casos na Enfmedic por um curto período de tempo. Merian, uma das enfermeiras que atuava comigo foi capacitada no curso e passou a realizar esse trabalhado também.
No seguir da carruagem, Suely e eu fomos atuando de modo independente no treinamentos de enfermeiros, cada uma em sua própria sede. E em meu curso passei a focar inteiramente em prática clínica de 3 dias por um certo tempo.
Embora meu enfoque nesse texto seja sobre educação, não posso deixar de escrever que na área assistencial a podiatria passou a ser um serviço bem relevante na empresa, e hoje é o carro chefe.
Um enxerto na história – assegurando a área na estomaterapia
Ao vermos ser esse um caminho presente e futuro de grande importância para o Estomaterapeuta, em minha gestão como presidente da SOBEST realizamos as competências do ET, e, aproveitou-se para já inserir essa atividade como parte integrante da especialidade, em documento publicado na Revista Estima e no site da SOBEST. Nesse documento ficou definido que algumas dessas atividades devem ser realizadas mediante curso complementar de capacitação em podiatria.
Realizar cuidados podiátricos – cuidados com as unhas: limpeza de micose, corte adequado, correção de deformidades e remoção de espículas ; cuidados com os pés: remoção de calos e calosidades (SOBEST, 2008).
Pouco a pouco os coordenadores dos cursos de estomaterapia foram introduzindo algum conteúdo no assunto para despertar os alunos para essa área também. E fomos vendo cada vez mais enfermeiros se interessando e se capacitando para tal exercício com cursos de extensão. Nossa empresa serviu de campo de estágio na área para os alunos de estomaterapia da EEUSP.
A especialidade na UNIFESP
Em 2007 nasceu a especialização em Podiatria na UNIFESP e três cursos foram realizados. Foi sonhado pela profa Mônica Gamba, a real precursora da Podiatria, mas coordenado pela Profa Odete, com auxílio da enfa Vera Lígia. Nesses cursos várias ET se especializaram, sem contudo atuar plenamente na área. Com a especialização a Podiatria entrou no rol das especialidades da enfermagem, mas foi retirada por algum desconhecimento de causa, ficando somente nas competências do ET. O curso foi interrompido depois da 3a edição, mas há intenção de retornar.
Outros cursos de especialização foram realizados por iniciativa privada.
A Podiatria na SOBENDE
Em 2015 foi incluída como uma parte no departamento das sub áreas da SOBENDE. E nessa entidade participei, com outras colegas, de uma força tarefa para organizar os cursos de extensão quanto a carga horária e conteúdo. O material foi enviado ao COFEN, pois se pretendia requerer o retorno da especialidade, o que não aconteceu.
Recentemente, o COFEn realizou uma nova resolução 570/18 incluindo a podiatria na Enfermagem em Dermatologia. Essa área têm sido atualmente coordenada por mim dentro da SOBENDE.
Nossos Simpósios – realizando cultura
Em abril 2016, realizamos, juntamente com o SIMPELE (Simpósio de Pele), o I Simpósio de Podiatria Clínica, no teatro Gamaro, em parceria com a Expansão Eventos, com participação de enfermeiras atuantes na área (Maria Lucoveis, Merian Santos, Rosangela Oliveira, Vera Lígia). Esse ano acontecerá a segunda edição, com exclusividade em Podiatria, ganhando essa identidade visual abaixo, também de autoria de Rachem Yamada.
Em maio de 2017, cunhamos em nossa empresa o termo PodiatriCare, para denominar nosso serviço dentro do IBYamada (nome fantasia adotado a partir de 2016). Depois, com a ideia de franquia, adotamos esse nome para o projeto PodiatriCare – uma missão de cuidado, que está sendo estruturado para uso de licença de marca. A logomarca (nov 17) foi criada pela minha filha, uma artista inata. E um site exclusivo foi desenvolvido pelo Maurício, cujo lançamento foi feito em dezembro de 2017.
Nesse momento, a PodiatriCare é uma rede de afiliados que se interessaram em promover o nome podiatria clínica, juntamente com o IBYamada. Todos os participantes são egressos de nossos cursos de podiatria clínica.
Logarmaca criada por Rachel Yamada
Ressalto que devido ao interesse na podiatria e sua inserção oficial dentro da Enfermagem em Dermatologia, coordeno uma pós-graduação no Centro Universitário Adventista nesse área, onde a Podiatria foi inserida como parte das disciplinas. O curso está em fase de inscrição.
Os nossos treinamentos no presente momento
A contar de 2005 até agosto de 2018, 37 turmas foram realizadas e inúmeros enfermeiros treinados. Vários desses realmente atuando, precisaria fazer uma pesquisa com os egressos.
Tenho como premissa a realização de turmas pequenas, com no máximo sete pessoas, devido a prática clínica que quero acompanhar com toda atenção.
O curso foi passando mudanças gradual ao longo do tempo, pois era focado na prática. Foram sendo incluídas novas temáticas como laser e empreendedorismo, sendo necessária a ampliação da carga horária. E sei que sofrerá sempre mudanças, pois é um aprendizado contínuo.
A partir de janeiro de 2018 passou a ser de Aperfeiçoamento, com uma parte teórica realizada em EAD. Na parte presencial, realizo dinâmicas de autoconhecimento (juntando meus conhecimentos de psicologia), além de mentoria em empreendedorismos e o treinamento em voluntários generosos. Tudo isso, em curto tempo, possibilita ao enfermeiro ampliar suas competências e atividades que já realiza, mas também iniciar um trabalho exclusivo. A grande maioria dos treinados é ET ou Enfermeiro em Dermatologia.
Considerando os treinados nos primórdios, já são 150 enfermeiros. De janeiro de 2015 até agosto de 2018, 102 enfermeiros foram treinados. E a partir de maio de 2016 (n=76), exclusivamente por mim.
Dado ao interesse, em parceria com colegas, realizamos uma nova base de treinamento no nordeste, na cidade de Fortaleza (CE), e já treinamos 14 enfermeiros em maio e julho, e com uma nova turma aberta para novembro. O Ceará já possui 15 enfermeiros treinados no nosso programa, todas elas especialistas em estomaterapia ou dermatologia. Na figura abaixo pode ser visualizada a distribuição por estado, no período de janeiro de 2015 a agosto de 2018.
Embora tenham sido treinados todos esses, nem todos conseguiram atuar em Podiatria de modo exclusivo ou complementar. Seja porque não possuem muito perfil para o empreendedorismo, seja porque não se encontram nessa atividade. Alguns se sentem “diminuídos” realizando cuidados podais. Talvez não tenham entendido o valor da missão de PodiatriCare: ajudar pacientes diabéticos a preservarem seus pés do risco da amputação, pois as estatísticas mostram que a “a cada 20 segundos um diabético perde o pé”. Atrelado a isso, PodiatriCare é uma das grandes possibilidades para o enfermeiro empreender com muito sucesso.
Graças a podiatria meu consultório se mantém com atividade 100% privada, não somente para atendimento clínico mas em educação continuada.
Incentivo fortemente enfermeiros a atuarem nessa área.
Dra Beatriz Yamada – ET