Feridas da alma X Feridas da pele – é preciso mais que o tempo para cicatrizarem

Nunca pensei um dia vir a Chapecó. Mas um convite para ministrar um curso me trouxe a essa linda cidade cheia de vales e montes verdejantes. Um ar puro e um lindo sol. Uma natureza privilegiada, que me fez lembrar caminhos da Europa. Talvez por isso, europeus colonizaram essa região. Um povo com sotaque distinto, com “dificuldade” para pronunciar palavras com RR. Mas, nesse lindo país, chamado Brasil, o que não faltam são sotaques variados.

Chapecó, antes Xapecó, agora é conhecida pelo mundo inteiro. Uma cidade que tem a marca em seus habitantes produzida por aquela tragédia do dia 29/11/2016, onde perderam praticamente todo um time de futebol. Isso com certeza causou uma ferida da alma, e estas, assim como as feridas da pele, precisam ser cicatrizadas, não somente pela ação isolada do tempo, mas com intervenções, realizadas consigo mesmo ou assistidas por profissionais.

Embora o ditado popular diga que o tempo cura as feridas da alma, não se pode ser tão simplista assim. Pode ser que para tantos, dotados de boa capacidade egóica, o tempo ‘sozinho’ ajude-os a se curar. Com certeza para tantos outros, as dores podem ser enviadas para “debaixo do tapete’, por vezes reprimidas no inconsciente ou nem para isso seja capaz. Logo, esse tempo pode ser variado para curar, elaborar/ressignificar como dizemos na psicologia, as angústias ou as feridas – como se diz no coloquial.

O tempo de cura das feridas da alma, assim como as da pele, podem ser maior ou menor a depender das intervenções pessoais e/ou profissionais, da integração que cada um pode fazer, da saúde biopsicossocial e espiritual, entre outros fatores.

Pode ser que deixar determinadas almas angustiadas sem apoio terapêutico ou com terapias mal conduzidas, haja muito retardo para cicatrizar. E em outros casos, até mesmo nunca serem fechadas. É preciso entender o que está no pano de fundo, tanto de uma quanto da outra. Recordar, repetir elaborar de um lado; avaliar, diagnosticar e remediar de outro. É preciso cuidado. É preciso manejo. Boas intervenções tanto para feridas da alma quanto aquelas da pele podem abreviar o tempo de cura.

Voltando a Chapecó, estarei na Unimed falando aos profissionais da casa como conduzirem tratamento das pessoas com feridas da pele, e como estas podem também ser afetadas pela alma, pois afinal somos uno.

Vale lembrar que tratar é mais oneroso que prevenir.
Que a nota tônica seja: No, for skin wounds. No, for soul ones.


Agradecida estou. :)

Dra Beatriz F Alves Yamada
Estomaterapeuta e Psicoterapeuta

5 respostas
  1. Kedma says:

    Excelente reflexão Dra. Beatriz! Nós, profissionais da saúde, muitas vezes não “escutamos” aquele que está na nossa frente e vamos “fazendo”. Gostei muito.

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  2. Renata says:

    Sábias palavras.
    Muito boa apresentação sobre seu trabalho em relação às feridas. Aprendemos muito com certeza.
    Renata Batassini, enfa. Unimed Chapecó.

    Responder

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