Por que OSTOMIA está errado?
Nossa tendência é acreditar no que lemos e ouvimos. Mas, por vezes, existem erros coletivos que vão sendo passados de geração em geração, sem serem questionados. O mundo está cheio disto. Vez por outra, crenças caem por terra, inclusive na ciência. Claro! A ciência é feita por humanos, e humanos erram. Eu erro, todos erramos. Não é mesmo?
Assim acontece com termos. Um exemplo:
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chamamos Sonda Vesical de Demora. Isso é errado. Sonda não tem abertura interna, logo, a urina não irá passar. O certo é cateter vesical de demora. Idem para nasogástrica. Mais um: sonda de gastrostomia, para o que deve ser tubo/cateter. E assim vai…
Outra questão é que assumimos termos de outras línguas sem verificar se temos como incorporar em nossa língua materna daquele jeito. Na verdade, nem prestamos atenção, vamos falando, escrevendo e vai ficando popular.
Isso ocorre com o termo OSTOMIA. Importamos no passado da literatura inglesa. E lá se usa OSTOMY. Não me pergunte se eles estão certos. Mas foi bem fácil traduzir, bastou mudar o Y pelo IA. E assim fomos levando a vida: ensinando, publicando, dando nome às instituições. Inventamos também o ostomizado (que também não existe na língua portuguesa).
Deixa eu contar uma história. Um dia li um artigo mostrando inúmeros erros que cometemos na terminologia usada na medicina. E eis que lá está a OSTOMIA. Isso foi 2004, eu era presidente da SOBEST, e tudo nosso era ostomia, claro!
O que fazer? Buscar uma entidade que entendesse bem de nossa língua para um parecer. E assim foi feito. Recebi a resposta da razão pela qual ostomia não estava certo, sendo o correto: ESTOMIA, ESTOMA e ESTOMIZAR (vide fotos abaixo).
Simples: stóma vem do grego. Em português antes de /st/ se coloca /e/. Ao se acrescentar o sufixo /ia/ tem-se, então, a estomia: uma boca.
Então, definindo livremente, estomia é uma boca (abertura) feita em algum órgão (ou parte dele) oco de nosso corpo para o ambiente externo, geralmente para eliminação, mas também para alimentação (quando estômago e jejuno).
Uhumm! Agora fica simples o quebra-cabeça. Pegam-se os prefixos das áreas a serem abertas (traqueo, gastro, ileo, colón, pleura, vesico, uro…) e criam-se os termos.
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Traqueo+stom + ia = traqueostomia
Colo+stom + ia = colostomia
gastro +stom + ia = gastrostomia
E estomaterapeuta? estoma + terapeuta = terapeuta estomal. Essa é a origem. Hoje, uma ET atua além das estomias, pois foram acrescentadas outras áreas de atuação, a saber: feridas agudas e crônicas, incontinências, fístulas, tubos e drenos. Ahhh, não existe ostomatoterapeutas ou estomoterapeutas.
Nas fotos das figuras 1 a 3, estão documentos do e-mail original que encontrei de minha comunicação com um lexicógrafo-chefe da Academia Brasileira de Letras na época.
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Fazendo uma limpa nas minhas pastas, o achei, já amassado. Creio que amassei para descartar, me arrependi e devolvi para uma pasta. O que foi bom, pois não tenho mais esses E-mails em meu computador. E esta é uma prova viva das mudanças que foram necessárias fazer daí para frente, tais como: mudança de estatuto da SOBEST, logomarcas, conteúdos diversos.
As as associações das pessoas com estomias mativeram-se como eram, porque havia receio de perdas de direitos. Mas, nós profissionais procurarmos ser respeitosos com nossa própria língua, pois errávamos pela ignorância.
O que aprendi? Temos que ser mais curiosos e investigadores. E respeitar a nossa língua materna. Embora a língua seja dinâmica, existe sempre uma gênese.
Está errado escrever OSTOMIA porque não está em concordância com nossa querida língua portuguesa. Também não existe a palavra ostomizado, podendo ser criado o estomizado. Mas o melhor é pessoa com uma estomia.
Abaixo documentos originais
Figura 1. Esse foi o email que enviei à Academia via canal de perguntas.
Texto elaborado por:
Dra Beatriz Farias Alves Yamada
Enfa Estomaterapeuta
Presidente da SOBEST nas gestões de 2002 a 2008.
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