SÉRIE TECNOLOGIAS PARA FERIDAS: O HIDROCOLOIDE
Tive a ideia que fazer uma séria chamada TECNOLOGIAS para feridas quando encontrei um arquivo com um material já produzido, tempos atrás. Já que tenho esse blog, considero que será mais útil aos profissionais terem esse material publicado aqui. Assim, farei a partilha dele por temas. Esse primeiro será sobre o hidrocoloide, o grande precursor das tecnologias.
A elaboração do conteúdo foi feita a partir da experiência clínica e da leitura das bibliografias abaixo, consultadas à época.
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Vamos lá saber mais sobre essa tecnologia tão presente em nossas vidas como especialistas?
O que é um hidrocolóide (HDC)? Hidrocolóide é a junção dos termos hidro + colóide que, misturadas com água, formam géis.
Os principais hidrocolóides encontrados nas tecnologias
Carboximetilcelulose – polímero solúvel em água obtido por meio da ação do derivado sólido do ácido cloroacético sobre a celulose alcalina. Age como espessante. Nos curativos sua principal função é hidratação.
Pectina – carboidrato purificado hidrossolúvel e absorvente, proveniente da parede celular das plantas, em contato com água a absorve tornando-se um gel.
Gelatina – proteína purificada hidrossolúvel, branca ou levemente amarelada, cujo odor e sabor são pouco pronunciados. É obtida pela hidrólise parcial do colágeno da pele e dos ossos de animais.
As apresentações de coberturas feitas a partir de hidrocoloides e seu modo de usar
A apresentação de curativos com HDC s pode ser em placa, fibra, gel, pasta e pó e essa versatilidade permite utilizá-los em feridas superficiais ou profundas, de diferentes etiologias, com ou sem presença de necrose, infectadas (desde que haja antimicrobiano) ou não e em qualquer fase do processo de reparação, desde que a escolha seja norteada pela situação do leito da ferida, a saber, tipo de tecido, volume de exsudato, condição microbiana e também a situação da pele ao redor.
Nas feridas mais planas há mais versatilidade para selecionar qualquer uma das apresentações, desde que guiado pelo tipo de tecido e volume de exsudação. Naquelas com cavidades preenche-se com pasta ou fibra, e nas secas aplica-se o gel. Cuidado deve ser tomado na aplicação das placas aderentes em epitélios recém-formados, pois podem ser removidos no momento de sua retirada. Em feridas infectadas devem ser indicados apenas aqueles hidrocolóides acrescidos de substâncias antimicrobianas.
O hidrocolóide em fibra, mais conhecido como hidrofibra, é formado somente da carboximetilcelulose e tem como grande vantagem proteger a pele ao redor da ferida da maceração devido a sua propriedade de absorção vertical do exsudato, e ter apresentação com e sem antimicrobiano, ou seja prata. Como desvantagem, dor e traumatismos podem ocorrer caso haja aderência da fibra nas margens da ferida. Isso acontece devido ao menor volume de exsudato nessa interface e, como prevenção, pode-se umedecer esse perímetro com uma barreira oleosa de ácidos graxos essenciais, por exemplo.
Com relação ao exsudato, a apresentação em fibra é a mais versátil, pois, desde que tomados os devidos cuidados, pode ser indicada em presença de exsudação baixa a excessiva. Assim, quando aplicada naquelas com baixo volume é imperativo ser previamente umedecida, caso contrário produzirá ressecamento e aderência no leito. Nesse caso usar somente se não houver outra alternativa nos arsenais das tecnologias.
A fibra absorve o exsudato prendendo na sua estrutura as bactérias nele contidas. Também se conforma com o formato da ferida, promovendo um meio gelatinoso, similar a uma placa de hidrogel que, acredita-se, facilitar a reparação. Sua alta capacidade de absorção diminui as trocas, reduzindo custos com o tratamento e deixando a ferida seguir seu curso sem frequentes interrupções do processo de reparo. A apresentação com a prata executa seu papel bactericida na própria cobertura.
A apresentação de hidrocolóide em placa, composta externamente por filme ou espuma de poliuretano atua como uma barreira física impermeável aos líquidos, gases, vapores e microorganismos. Esse isolamento do ar atmosférico mantém a temperatura em torno de 37ºC, ideal para o crescimento celular, e provoca hipóxia no leito da ferida, estimulando a angiogênese e, adversamente a hipergranulação.
Os hidrocolóides em placas possuem também materiais adesivos sensíveis à pressão, cuja adesão inicial é maior que algumas fitas adesivas. Depois da aplicação, a absorção do vapor d’água transepidérmico modifica essa aderência aumentando-a mais ainda no decorrer do seu uso. Essa aderência não ocorre no leito da ferida devido à absorção do exsudato e consequente formação de gel.
Ao indicar-se as placas adesivas de hidrocolóide seleciona-se um tamanho de tal maneira que seja deixada uma margem de segurança de 1 a 2 cm para promover uma boa aderência na pele íntegra. O mesmo princípio deve ser considerado na utilização da fibra, pois na medida em que o exsudato é absorvido ela encolhe.
As placas adesivas podem ser classificadas como coberturas primárias (contato direto com o leito) ou secundárias (colocada acima da primária). As demais apresentações são todas primárias, necessitando sempre de uma cobertura secundária.
Comercializados em vários tamanhos, formatos e espessuras, as apresentações em placa adesivas e em fibra podem ser recortadas. Mas placas quando cortadas podem necessitar de ajuste com outra tecnologia como filmes de poliuretano ou fitas adesivas.
Os curativos de hidrocolóides podem permanecer na ferida até sete dias ou até quando houver sinais de saturação, mas sua permanência está intimamente relacionada ao volume de exsudato presente na ferida e a apresentação. Quando os curativos não são trocados a intervalos apropriados, pode ocorrer maceração da pele peri-ferida, exceção se faz a apresentação em fibra, que possui absorção vertical, como referido anteriormente.
Com relação à contra-indicação, os curativos de hidrocoloides placas adesivas convencionais (sem adição substância para controle microbiano) não devem ser aplicados em feridas infectadas, especialmente por anaeróbios, por favorecerem um meio ideal para a proliferação de microorganismos. Além disso, devem ser evitados por pessoas alérgicas aos componentes do produto. Ressalta-se que na presença de infecção sejam usadas as apresentações com presença de antimicrobiano.
As barreiras para uso nos dispositivos são feitos de hidrocoloides também. Aliás, é daí que tudo nasceu e foi derivado para as lesões de pele aguda e crônica.
Hidrocoloides podem ser usados até em recém-nascidos pré-termo. As apresentações extrafinas são bem adotadas para proteção em áreas de fixação de tubos, cateteres etc.
Existem muitas marcas no mundo e no Brasil que possuem essa tecnologia. Tornou-se muito comum.
Espero que você aprecie.
Dra Beatriz Farias Alves Yamada
Enfermeira (graduada em 1989) Estomaterapeuta e Dermatológica
Doutora e Mestre em Enfermagem pela EEUSP
Pós-graduada em Aromaterapia
Pós-graduanda em Ozonioterapia
Escritora, palestrante, professora
Empresária, proprietária das empresas byCorpus e IBYamada
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Referências Consultadas
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Obs: no material original contribuíram comigo as enfermeiras: Cláudia Cristine de Souza Gonçalves ; Maria Gabriela Secco Cavicchioli; Kelly Cristina Strazzieri Pulido; Rosangela Aparecida de Oliveira; Suely Rodrigues Thuler.
Acréscimos foram realizados nesse conteúdo atual.
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