Figura 7

Tratamento de Úlcera Neuroisquêmica, por Diabetes Mellitus, com cobertura contendo prata nanocristalina

Beatriz Farias Alves Yamada, Enfermeira Estomaterapeuta, Doutora e Mestre em Enfermagem
Débora Regina Guedes, Enfermeira Gerontóloga
Suzana Aron, Enfermeira Estomaterapeuta

Republicação O caso foi publicado no BOLET (Boletim do Centro de Estudos Norma Gill) – Novembro 2011, Volume 1, Nº 2


Introdução

O Diabetes Mellitus (DM) acomete milhares de pessoas e cerca de 4 a 10% sofrem de úlceras crônicas (UC)1. As UC resultantes de mecanismos endógenos associados com doenças, freqüentemente, ficam estagnadas na fase inflamatória. A prata, além do efeito antimicrobiano, bloqueia a ação desses agentes pró-inflamatórios (PI) e equilibra o micro-ambiente local, favorecendo a cura das UC.

Objetivo

Relatar a experiência de utilização de prata nanocristalina (PN) ionizada em ferida neuroisquêmica crônica decorrente de DM.

Método

Esse relato de um caso – com consentimento escrito – foi realizado na Enfmedic – São Paulo. Cliente foi admitido em nosso serviço em 15/02/05. Sexo masculino, na época com 80 anos de idade, tinha cardiopatia, hipertensão arterial sistêmica, insuficiência venosa crônica, complicações neurovasculares e amputações prévias parciais nos pés devido a DM. O exame de Doppler revelou ateromatose e calcificação parietal difusas, além de oclusão de artérias de ambas as pernas. Seu pé estava em risco de nova amputação. O pé direito já havia sido submetido à amputação de todos os dedos, excetuando o quinto. Desse modo, estávamos diante de um caso complexo devido às doenças existentes que causam retardo no processo de reparação tecidual. Ainda tinha atividade laborativa a qual executava em sua própria casa.

Com relação ao histórico das feridas, apresentava duas úlceras em cada pé, iniciadas em junho e novembro de 2004, respectivamente no pé direito (PD) e esquerdo. Contudo, nesse relato será apresentado o tratamento com a úlcera medial do PD, por ser a de maior área (4,54cm2 – Figura 1). A úlcera estava sem necrose, tinha 25% de descolamento de margem, exsudato amarelo esverdeado e ácido, pele ao redor macerada.

A documentação foi realizada com fotografia digital e planimetria computadorizada. Dentre outras medidas, confeccionou-se calçado terapêutico. Essa publicação foi feita mediante consentimento escrito de cliente.

Figura 1

Figura 1 – Início do tratamento com hidropolímero com PN (HPN)

No início do tratamento (Figura 1) adotou-se limpeza com soro fisiológico, uma cobertura com hidropolímero incorporada com PN e barreira de pele ao redor com ácidos graxos. O curativo era fixado com malha tubular. Para prover aquecimento aplicava-se sobre a malha o algodão ortopédico, e fazia-se um suave enfaixamento com atadura. A troca era realizada a cada 2/2 dias. Além disso, era necessária a realização de desbridamento instrumental conservador da queratose ao redor da ferida.

Resultados

Por 64 dias usou-se hidropolímero com PN (Figura 2 a 4). Contudo, a fim de melhor controlar a maceração da pele ao redor mudou-se o tipo de cobertura. Continuou sendo aplicado PN ionizada, mas dessa vez impregnado numa malha de polietileno – PNMP, sendo essa cobertura iniciada dia 20/4/05 (Figura 4).

Embora lento, verificou-se que ambos os curativos com presença de PN responderam favoravelmente à cicatrização, sem qualquer reação adversa. Com a PNMP, preservou-se melhor de maceração a área epitelizada. Após 36 dias de aplicação da PNMP houve diminuição em 50% da área inicial (Figura 5). Manteve-se a mesma conduta até o dia 18/08/05, quando a área estava com 0,48 cm2 (Figura 3). Portanto, foram seis meses de uso continuado de PN, sendo desses 120 dias de PNMP.

Após a data acima, a cicatrização foi concluída, 51 dias depois, com outra tecnologia a base colágeno. A cicatrização complete aconteceu depois de 235, cerca de oito meses de tratamento (Figura 4). Adotaram-se depois cuidados com umectação do membro após o banho e uso de meia de algodão sem costuras para proteção do mesmo.

Figura 2

Figura 2 – 35 dias depois do início do tratamento com HPN

Figura 3

Figura 3 – 48 dias depois do início do tratamento com HPN

Figura 4

Figura 4 – 64 dias depois do início do tratamento com HPN. Inicio da PNMP

Figura 5

Figura 5 – 36 dias depois de iniciado o uso da PNPM

Figura 6

Figura 6 – 120 dias depois do inicio da Finalização PNMP

Figura 7

Figura 7 – Cicatrização final

 

Discussão

Tratar feridas em membros isquêmicos é um desafio, sendo o principal objetivo a prevenção da infecção. Estudos relatam2,3 que a excelência da prata para equilibrar a carga microbiana e inflamação permite que feridas refratárias cicatrizem, devido à diminuição dos citoquinas PI, desencadeados por traumas, isquemia, necrose, colonização crítica e infecção.

Nesse relato de caso, e em muitos outros que acompanhamos, foi possível atestar que de fato as coberturas com prata são efetivas para tratamento de feridas de lento reparo. Ressaltamos o paciente desse caso há alguns meses estava sob tratamento com boas práticas, sem, contudo obter resposta adequada. Ao ser iniciado o uso da prata, a ferida passou a apresentar resposta favorável, com granulação, fechamento da área descolada e a epitelização, sendo que essa foi a fase mais prolongada do processo.

Conclusões

Foi usado PN por de 184 dias consecutivos, sem haver nenhuma reação adversa. A cicatrização completa ocorreu em 235 dias de tratamento. Não houve quadro infeccioso durante o tratamento.

Considerações

A prata nanocristalina se mostrou como uma excelente alternativa para tratamento de úlceras isquêmicas, sem nenhum afeito adverso, mesmo com uso prolongado. Podendo assim ser uma boa opção para tratar feridas refratárias.

Referências

  1. Ribu L, Wahl A. Living with Diabetic foot ulcers: A life of fear, restrictions, and pain. Ostomy Wound Management 2004;50 (2): 57-67.
  2. Sibbald RG et al. Preparing the wound bed 2003: Focus on Infection and Inflamation. Ostomy Wound Management 2003;49(11): 24-51
  3. Shultz GS et al The wound bed preparation: a systematic approach to wound management. Wound Repair and Regeneration- The international journal of tissue repair and regeneration 2003:11(2) Supplement.

Republicação

O caso foi publicado no BOLET (Boletim do Centro de Estudos Norma Gill) – Novembro 2011, Volume 1, Nº 2

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